Blockchain pode colaborar para tornar a moda mais sustentável

Em meio à ascensão das criptomoedas, o blockchain surge como um catalisador promissor para tornar a indústria da moda mais sustentável. Longe do universo volátil dos bitcoins, empresas do setor já adotam essa tecnologia para estabelecer um registro confiável e transparente dos elementos que compõem a cadeia produtiva. Essa abordagem permite rastrear a origem da matéria-prima, monitorar a transformação ao longo do processo e tomar decisões estratégicas para conferir circularidade aos resíduos.

A Fundação Ellen MacArthur, referência global em economia circular, destaca que a indústria da moda enfrenta desafios significativos, sendo responsável por 90% do desperdício do setor têxtil, principalmente no processamento de materiais e na extração de insumos. O blockchain, ao oferecer um armazenamento seguro e imutável de informações, desenha o percurso das peças, desde a origem da matéria-prima até o consumidor final, não apenas reduzindo desperdícios, mas também garantindo práticas alinhadas às normas de ESG.

No contexto da economia circular, a JBS, líder mundial em proteína animal, conduz a transição da produção de couros para o "kind leather". Atualmente, 30% dos couros processados pela empresa adotam esse modelo mais sustentável, e a meta audaciosa é alcançar 100% no Brasil até o próximo ano. A rastreabilidade é assegurada desde o início da cadeia, com os fornecedores de bovinos utilizando blockchain na plataforma Pecuária Transparente, o que impede manipulações indevidas dos dados.

Integrando tecnologias da Indústria 4.0, como machine learning, a produção do "kind leather" avalia os couros de forma eficiente, otimizando cortes e aproveitando até mesmo as aparas para a produção de colágeno. Esse processo inovador não apenas contribui para a sustentabilidade, reduzindo resíduos em até 93%, mas também consome menos energia elétrica (62%) e água (52%).

Em um cenário onde a indústria da moda é o setor produtivo mais poluente, a Fundação Ellen MacArthur destaca dados alarmantes, como o descarte de um caminhão de lixo têxtil a cada segundo no mundo. No Brasil, aproximadamente 4 milhões de toneladas de resíduos têm o mesmo destino anualmente. A falta de transparência na cadeia produtiva é um desafio, e o blockchain emerge como uma solução para certificar a sustentabilidade de matérias-primas e peças de roupa, promovendo melhorias na produção, logística e reutilização dos produtos.

No Brasil, a Cotton Move investe em economia circular desde 2018, com o projeto ReJeans, utilizando blockchain para proporcionar rastreabilidade e transparência ao processo. A empresa conecta todos os envolvidos no ciclo do algodão por meio de um aplicativo de plataforma circular. A reciclagem do algodão, com dois processos adicionais em relação aos produtos lineares, contribui para a redução de desperdícios e o envolvimento de parceiros como C&A e Reserva.

A varejista C&A, focando na rastreabilidade e oferta de produtos circulares, utiliza blockchain para selecionar parceiros, registrando cada movimento das peças na cadeia produtiva. A transparência, garantida pelo blockchain, é essencial na avaliação dos 75 pontos socioambientais e de compliance, seguindo critérios globais na escolha de fornecedores. A empresa também investe no jeans reciclado, por meio do movimento Reciclo, embora essas coleções representem apenas 1% do total oferecido nas lojas.

A expansão da rastreabilidade para matérias-primas mais complexas, como poliéster e viscose, e o aumento do uso de matérias-primas sustentáveis, incluindo algodão, poliéster e viscose, são passos estratégicos para ampliar o impacto positivo no setor. O comprometimento com práticas sustentáveis é evidenciado pelos esforços contínuos das empresas e suas parcerias, refletindo uma transformação significativa em direção a uma indústria da moda mais sustentável.

Fonte: Terra com br - Blockchain tem potencial de tornar a indústria de moda mais sustentável